segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Entre os dedos


Ultimamente minha percepção das coisas tem mudado consideravelmente, não sei se é um fator biológico, envelhecer dói muitas vezes, não que eu esteja sentindo dor pelo corpo, não, ainda não cheguei à “fase da artrite”, mas dói perceber que estamos envelhecendo, o que antes me dava tanto prazer, hoje já não me satisfaz com a mesma eficácia. Percebo o quanto cresci através do que eu escrevia antes, minhas preocupações são outras, é fácil de ver que já é adulto, quando as faturas começam a chegar no seu nome, e não no do seu pai, quando se quer descansar no domingo, por que segunda feira tem que acordar cedo pra ir trabalhar ou quando você percebe no espelho do seu quarto que nada mais é como antes, inclusive a nova ruga que apareceu em sua testa!


Eu demorei a crescer, fisicamente não cresço desde os 17 eu acho! Mas só fui me tornar adulta de fato agora em 2010. Não é que eu quisesse crescer, acho que no fundo ninguém quer, mas as vezes a vida nos força, já estava na hora da vida me surrar e gritar “Renata! Você precisa reagir!”, eu não tinha nada, só um cartão de crédito e um plano de saúde que meu pai se matava pra pagar. Eu sou a filha caçula, fui mimada, meu irmão costuma dizer que meus pais me estragaram, não nasci para ser dona de casa, não sei cozinhar, passo malmente uma roupa e odeio lavar louça, e isso não é vergonha. Minha mãe me criou para ser “independente”, e meu pai me criou para ser “rainha”, é acho que me estragaram. Nunca precisei trabalhar, sempre tive tudo, mas percebi que era pouco pro tamanho da minha ambição. E resolvi começar a pagar minhas próprias contas.


Não que eu seja ambiciosa a ponto de passar sobre os outros, mas quero dar um futuro bom aos meus pais, da mesma forma que quero ter filhos, só não sei se quero ter com alguém, mas quero tê-los. E isso é engraçado, por que antes eu pensava em casar e ter filhos, não que eu não pense mais, só que agora eu penso de forma mais racional.


Esse ano eu precisei amadurecer, perdi 3 pessoas que eu realmente amava, meu tio e minha tia, que faleceram, me ensinaram tantas coisas durante a vida, e com suas mortes, não foi diferente. E perdi alguém para a vida. É difícil mentir para si mesma, tentar cultivar ódio por alguém, se matar achando que está matando o outro.  Mas com o tempo as coisas começam a ficar dormentes. Mas talvez, sem essas perdas, eu não estivesse onde estou agora. Talvez não tivesse tido forças para reagir, para ser adulta.


Hoje entendo meus pais muito mais do que entendia ontem.


Crescer dói, por que o tempo passa mais depressa, por que um dia perdido pesa no final. E quanto mais perdemos nosso tempo cultivando sonhos perfeitos, os imperfeitos fogem de nossas mãos, assim... Como água entre os dedos.

4 comentários:

  1. Que lindo esse texto Renata. :)
    Nossa é tão, mais tão difícil crescer e encarar todos estes problemas e realidades da vida. ):

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  2. é , dói aceitar que as coisas mudam , mas crescer é preciso , mudanças são necessárias , mesmo que as vezes a gente ache melhor do jeito que tá por puro comodismo . Lindo o texto (L) eu amo muito te ler , não tens ideia . Tô sentindo tua falta ,muita.

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  3. Olá, tudo bem?

    Vimos seus comentários no blog Ideias Vestiveis e ficamos muito felizes. Ó, para saber das novidades, segue a gente no twitter @revistasopro.

    Obrigadoo!

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  4. Digamos que eu sei bastante como é se sentir assim. De verdade. Chamo de 'crise dos vinte', a hora em que devemos dar conta de tudo e dar conta de nada ao mesmo tempo. Dói perceber o tempo passar.

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