terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Um novo recomeço

Sinto que já vivi muito mais que meus conturbados vinte e seis anos. Certamente quem me conhece, os poucos que me conhecem de verdade, de forma mais profunda e intensa sabe do que estou falando. Infartei aos quatorze anos, ver a morte de perto muda muito as pessoas e essa experiência com certeza me mudou, no primeiro momento o desespero, achava que nunca iria chegar aos dezoito, doze anos depois aqui estou eu, escrevendo em um blog sobre mim mesma, contando minhas histórias de amores e desamores, de idas e vindas. Essa fase pós infarto fez com que eu quisesse viver tudo o que tinha pra viver, antes que meu tempo acabasse, foi uma fase caótica, de incertezas, eu não sabia exatamente quem eu era, mas sabia quem não queria ser. Experimentei o primeiro cigarro, formei minha primeira banda, durmi fora de casa sem avisar pela primeira vez, me assumi homossexual, militei em partido político...
Tive duas outras crises muito fortes, tão fortes que nem Lexotan na veia fazia efeito, não tinha nada, apenas eu de mãos dadas com a minha sorte. Não morri graças aos meus pais que agiram rápido, "mais alguns minutos e ela não teria resistido" disse o médico na primeira vez e o que era pra ser uma despedida fez com que eu começasse a enxergar as coisas de forma diferente.
Entrei em processo de depressão várias vezes, me forcei a sair por que não queria me dar ao luxo de sentir pena de mim mesma, encontrei motivos pra viver entre os acordes da minha guitarra e logo em seguida entre  os tons da bateria. Era sempre assim, tocava como se fosse a última vez. Sempre fui carinhosa, mas isso tudo fez com que eu nunca me despedisse sem dizer o quanto amava ou gostava de alguém. Acho que todo mundo deveria fazer isso, dizer o que sente, antes que seja tarde demais.
Passei quase dois anos tomando medicamentos, as crises diminuíram, mas o mal que eu tinha feito para mim mesma no meu desespero, já não tinha mais volta. Mas como diz a minha melhor amiga, Monique Malcher, eu sou "o ritual de ano novo em pessoa", pelo meu não medo de mudanças e isso não quer dizer que eu não exite diante delas, resolvi me reciclar, assim como já me resetei muitas e muitas vezes, sempre quando é preciso. Não tenho cores favoritas, nem uma única música preferida. Posso estar no Rio de Janeiro e no dia seguinte me mudar pra Grécia, ou pra outro país que não esteja em crise, já basta as minhas próprias.
Onde quero chegar?
Não tenho medo de morrer, depois que a gente desmaia não sentimos mais nada. Mas enquanto estamos aqui, permanecer o mesmo é quase um crime. A beleza da vida é se reinventar a cada página virada.