terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre a menina no espelho.



E ela olhava. Olhava-me como se soubesse o que se passava dentro de minha alma. Como se entendesse tudo, todos os conflitos, e angustias que eu jamais contei a alguém. É assim, sorrimos para não chorar, bebemos para nos enganar. Porém ao deitar a cabeça no travesseiro, nos segundos entre dormir e estar acordado, tudo vem a tona, entra pelas veias como soro, e dói.
As vezes sentia que mesmo calada, ela gritava, e meus ouvidos, sem nem mesmo sentir uma única vibração sequer do ar, a ouvia. Nos seus olhos castanho, ela chorava, sem derramar uma lágrima. Mesmo assim... escorria. Eu trocava de roupa, de idade, de anseios. Ela se despia. Arrancava fora quase tudo que podia.
Quantas vezes a olhava, e mesmo a vendo, não enxergava. E meu ego explodia. Cada um cultiva o seu como quiser. Enquanto eu deixava o meu crescer, freneticamente ela se debatia. Eu queria enxergá-la, mas estava cega. Nos deslumbramos com tão pouco.
Os anos passavam. As horas corriam. 
E ela continuava a me olhar. Até que um dia eu acordei. Então pude notar, que mesmo com o passar dos anos, ela se mantinha sã. Entre gritos e berros, a louca era eu, que estava em silêncio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Passagem.



As vezes queria que minha vida fosse mais fácil. Queria voltar ao passado e não ter perdido tanto tempo. Queria ter amadurecido mais rápido, talvez assim, eu não tivesse tanta responsabilidade em minhas costas. Não estou me queixando da vida. Ter responsabilidade é algo que vem no pacote quando nos tornamos adultos, junto com a "liberdade", essa que acabamos conhecendo só por nome, já que quase não sobra tempo para ela.
As vezes paro para analisar meus amigos de faculdade. A maioria é mais nova que eu. Apenas estudam, só vão para a aula de manhã, voltam para casa, almoçam, dormem... A responsabilidade é estudar, e a grande maioria só faz para conseguir nota, na verdade, decoram coisas para a prova. E mesmo assim, se queixam de cansaço, de pressão.Não, eles não sabem o que é isso.

As vezes queria ter passado por essa fase. Mas sei que seria como eles. Não sacrificaria meus finais de semana para estudar, não daria tanto valor as aulas, não veria o mundo como vejo. Fiz muitas escolhas, algumas erradas. Mas quando escolhi voltar a estudar, e trabalhar, sabia que teria que abdicar de muitas coisas. Não me arrependo. Foi a escolha certa.
Ultimamente nem escrever um soneto está tão fácil, já que meu coração permanece quase vazio. Eu disse quase... A questão é que quando você cresce, é cada vez mais difícil você sentir aquela sensação, de que algo te deixa vivo. Talvez um amor. E eu não tenho um. Além do meu.

Porém toda essa dificuldade, faz eu me tornar uma pessoa melhor a cada dia... As vezes, só as vezes, queria que minha vida fosse mais fácil.Ainda bem que isso passa...