quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"Diva"



É que sempre ao apagar o cigarro com a ponta de seu salto já gasto, ela imaginava que tudo poderia ter sido diferente. Mas a realidade era cruel, quase que doentia.
Todos os dias ao acordar, contava os pelas barbas... No fundo ela gostava, sim, gostava, por que seu ego era enorme, e o bolso deles também. Ela era diferente, não era o estereótipo em pessoa, nem se achava “puta” nem “decadente”, na verdade ela uma diva, dona de homens importantes, e de mulheres discretas. Tinha um belo apartamento no centro da cidade, fazia faculdade de um curso cheio de meninas “parecidas” com ela. Mas ela sabia, Ela era a melhor!
Constantemente recebia flores, caixa dos melhores bombons, sabe, daqueles caros e importados com recheio de licor de não sei o quê que rico gosta, bebia vinhos franceses e freqüentava restaurantes e hotéis de luxo. Dirigia um carro do ano, e não se preocupava com as contas, eram todas muito bem pagas.
A noite tinha chegado, seu celular tinha tocado diversas vezes, mas ela já tinha algo marcado. Tinha que estar exatamente as vinte e duas horas na suíte máster do único hotel cinco estrelas daquela enorme cidade provinciana. Ela chegou dez minutos antes, pegou a chave do quarto e subiu, a vista era bastante bonita, ela já a conhecia, então não se importou. Sobre a cama tinha um bilhete, com letras manuscritas, parecia instruções.

“No banheiro irás encontrar um caixa, nela há sais de banho, uma toalha, e um lenço preto.
Prepare um banho com os sais. Não me espere. Enxugue-se com a toalha.
Deixe as luzes fracas.
Nua. Vá até a cama e deite-se e vende seus olhos.
p.s. Há dois cheques na caixa, como combinado. São seus, guarde-os.”

Outra mulher poderia achar que estava lhe dando com um louco, mas depois de ter se vestido até de mulher maravilha para satisfazer o desejo alheio, aquilo não pareceu nada demais. Excêntrico. Mas nada demais.
Seguiu as instruções a risca, guardou os cheques em sua bolsa e fez o resto que estava escrito no bilhete. Vinte minutos depois ouviu alguém entrando no quarto. Sentiu o toque suave de dedos por sua perna, que delicadamente as abriu. Sentiu seu corpo arrepiar, parecia ter milhares e volts passeando sobre sua pele, que suava e sentia como nunca havia sentido, que, que...
Depois. Nenhuma palavra.
“Você ainda está ai?”
Nenhuma resposta.
Olhou por de baixo da venda, ele estava no banheiro. Mas só viu sua sombra. Ouviu um barulho e ajeitou a venda novamente sobre os olhos. Ouviu passos, mas ainda nenhuma palavra, nenhuma respiração. Meia, uma hora, e não ouvia mais nada, até que... seu celular toca, ela tira a venda. Mas um cliente na outra linha. E mais um bilhete sobre a cama.

                                                                      

Nada escrito.
Ela tinha tudo, ela brincava com o mundo, sorria pra tudo, por que achava ter tudo nas mãos, contava as barbas por que eram apenas seus objetos. Nunca havia se apaixonado... Até aquela noite. 

As vezes nos cegamos por puro comodismo, é mais fácil caminhar sem saber a direção, mas quando encontramos o caminho certo enquanto estamos cegos, fica difícil reconhecer o que está bem atrás de nós.