segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Íris




Rios de egoísmo. Tornados elevando o vento da discórdia, e o que passa por sua vida não é nada mais do que águas negras de dor e sofrimento, e assim escorrendo vagarosamente, gota por gota de suas lágrimas, juntam-se ao suor maçante da frustração. Olhar nos olhos e ver o que não consegue enxergar, na verdade é como fechá-los, e ela sente isso, fechados para dentro e para fora. - Então é assim que se fica cega?
- É assim!
Poucos conseguem vê-la, e quase inexistentes os que conseguem enxergá-la, e a alma que nasceu gêmea ainda não a encontrou para entendê-la, será que alguém pode decifrá-la? É improvável, é desesperador, por que olhá-la assim, sem sonhos, é como vê-la deitada em uma caixa de madeira prestes a ser esquecida em um buraco qualquer. – Quer dizer que sem sonhos ninguém vive?
- Se não há sonhos, é por que na verdade não acordamos. Estamos em um pesadelo constante.
De tanto sofrer, de tanto chorar e gritar, ela resolveu se calar dentro de si, construiu um muro, virou um castelo, onde prendeu todos os seus contos de fadas em masmorras fétidas, alguns dizem que mandou decapitar as próprias fadas que insistiam em lhes contar tais histórias. Outros teimam em dizer que ela na verdade apenas se cobre com um lençol translúcido, e fica em posição fetal sobre a cama.
É assim que a loucura beira o ódio e o mesmo beija sua face, que entre tantas faces se mostra incapaz de tolerar a si mesmo. Como palhaço que pinta lágrimas no rosto para fazer os outros sorrirem como bobos de sua própria desgraça. Como se decadência provocasse em nós a sensação de êxtase que não encontramos ao abrir nossas pernas em noites pseudo-excitantes.  
Suas pegadas vão apagando à medida que a umidade de seus pés é devorada pela sensação infernal do “tempo”. Em um estado de amnésia reversa, tira do baú o que um dia vestiu, e percebe que nada mais cabe, restando apenas o tecido envelhecido que as traças insistem em tornar “alimento”, assim como um dia nossos próprios corpos se tornarão...
E é assim que eu me monto, peça por peça, perdida em meus próprios olhos.
-Me sinto em uma trama interminável, uma ligação doentia entre eu e o espelho do meu quarto!


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