segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Bloqueio


Por anos me mantive bloqueada. Por quatro anos não me permiti sentir absolutamente nada. No início é sempre difícil, por mais que vc não queira, sempre acaba sentindo algo, geralmente mágoa pelo o que aconteceu, depois ódio de si mesma por sentir amor, até que você vai tentando esquecer toda a sensação que esses sentimentos tem sobre o seu corpo. É, é isso, é a parte mais difícil.
Geralmente você começa bloqueando o que sente só por uma pessoa, com o tempo, sem nem mesmo perceber começa a bloquear as demais. É complicado. Depois de um tempo percebi que estava me bloqueando até pras pessoas mais próximas, como pai, mãe, irmãos. É duro, e dói. Mas dor é sentimento, então me permitir esquecer isso também.
Dizem que artistas são pessoas problemáticas, que eles são intensos, impulsivos... Ser assim, sentir demais é como enfiar uma faca em si mesmo. Sentir qualquer coisa, principalmente amor, dói. Deve ser por isso que ninguém gosta de dizer que ama. Pessoas românticas são vítimas de sua própria essência. Já cansei de ser meu próprio carrasco. É difícil, é sempre difícil, ter que escolher entre sentir e se bloquear. Durante os anos que me mantive bloqueada não produzi absolutamente nada, nenhuma música, nenhum quadro, nenhuma poesia, nada. Mas foram os anos em que tive paz, por que eu estava tão vazia, que me fiz acreditar que essa quietude só poderia ser paz.
Era um silêncio amargo em meu peito, uma ilusão cabida, necessária.
Ao me desbloquear eu voltei a cair nos mesmos erros de todo romântico. Sair de um bloqueio desses pode ser tão traumático quanto o parto é para um bebê que sente o ar em seus pulmões pela primeira vez. Sofri novamente, chorei novamente, cai novamente...
E lá estava eu mais uma vez sentindo aquele turbilhão, aquele fogo me queimando, aquela dor.
Já não sei se consigo continuar assim, por que não tenho mais controle nenhum sobre o que estou sentindo. Pensei que tivesse, mas não tenho. Quando menos esperei já estava completamente mergulhada, submersa. Não consigo mais controlar. E amor, por vezes dói.
Preciso me desconectar, só mais essa vez... Pra sempre...


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Ela não sabia amar


Ela não sabia amar, nem se poderia amar.
Pensava somente em si mesma, passava dias e noites escrevendo sobre algo que desconhecia, fantasiando tudo aquilo que lemos nos contos de fadas e que no fim das contas só serve para quebrarmos a cara. Lia montanhas de livros tentando entender o que não sentia, e compreender o porquê de relacionarem tal sentimento com dor! Por que pessoas dizem matar por amor? Por que algo que traduzem como “divino” as fazem chorar?
No fundo ela só queria sentir... mas não sentia.
Passava horas olhando para o teto, em busca de respostas, mas nenhuma caia do céu em seus braços. Tentava achar lógica para o que não existia razão, e equacionar a emoção.
Beijava bocas, sentia curvas, se deliciava com vários gostos, e nenhum realmente a fazia sentir.
Ela tinha medo, temor do que desconhecia, ou talvez já tivesse conhecido, porém... esquecido.
Se protegia atrás de uma máscara, uma névoa ao seu redor, impenetrável. E quando percebia que estava em perigo, Ela simplesmente fingia que nada podia a tocar.
Ela não era tão egocêntrica, nem egoísta como em seus auto-retratos, muito menos tão fria e gélida. Na verdade existia um coração ardendo por trás de palavras tão técnicas e piadas sem nexo. Existia alguém com todas as perguntas respondidas, mas que as escondeu em algum lugar, para Ela mesma não achar.
Na verdade... Ela amava demais!


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Caminhando entre brasas


Nada me basta, nada, absolutamente nada me completa.
Nenhum lugar me pertence, como se minha alma fosse livre, que de tão livre se sente presa nas amarras da vida. Como se o mundo fosse tão pequeno, como se nenhum lugar ou alguém pudesse me completar. Então sigo assim, perdida, acreditando que posso me encontrar em cada boca que beijo, em cada olhar, em cada mão que possa percorrer meu corpo.
Mas não.
Busco sentido no óbvio? Pq eu mesma não tenho sentido, não tenho significado. Talvez por não saber a própria significância de minha existência, tenho a necessidade sufocante de ler cada pessoa em suas entrelinhas. É desesperador conseguir compreender os outros e não conseguir compreender a si mesma. Uma dádiva ou um fardo? Talvez não tenha uma resposta para isso.
Já não me escondo como antes
Já não me importo como antes.
Mas ainda sim há algo em mim, como um chama que não me deixa congelar, algo que me diz para seguir adiante, sem olhar pra atrás e nunca desistir. Meu otimismo me mantem sã, enquanto minhas esperanças são afogadas em cada gole de cerveja.
Me abraço a inebriante mentira de que não preciso de ninguém, buscando ser lúcida nos não tão raros momentos de embriaguez. 
E nesse ciclo, continuo caminhando entre brasas, que já não me queimam mais...